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A palavra “Yoga” vem da raiz sânscrita “Yuj”, a qual significa “unir”. Este é um sentido espiritual; é um processo pelo qual a identidade da alma individual, e a Alma Suprema, é realizado pelo Yogi (praticante de Yoga); onde a alma humana introduz-se internamente em comunhão com a Realidade Divina. Assim como a cânfora se torna una com o fogo, assim como um gota d’água quando é jogada dentro do Oceano torna-se una com ele, a alma individual, quando purificada, quando está liberada da luxúria, avareza, ódio e egoísmo, quando ela se torna pura (Sattvica), torna-se una com a Alma Suprema. A ciência que ensina o caminho para conseguir o conhecimento oculto é chamada de “Yoga Sastra”.
Yoga, no seu sentido genérico, refere-se a Karma-Yoga, Bhakti-Yoga, Raja-Yoga, Jñana-Yoga, Hatha-Yoga, Mantra-Yoga, Laya-Yoga ou Kundalini-Yoga. No sentido restrito, significa Ashtanga-Yoga, ou Raja-Yoga, de Patañjali Maharishii, apenas.
A palavra Yoga é também aplicável no sentido secundário para todos os fatores e práticas que conduzem para a realização ou concretização do Yoga, e, como tal, indiretamente conduzem para a liberação ou perfeição final. Similarmente, aquele que tem alcançado o Asamprajñata Samadhi final, ou união com a Realidade, é chamado de Yogi, assim como aquele que está tentando adquirir a perfeição no Yoga é também chamado de Yogi.
A filosofia do Yoga é um entre os seis sistemas de filosofias Hindus. Diferente de muitas outras filosofias no mundo, ela é uma filosofia inteiramente prática. O Yoga é uma ciência exata, baseada em certas leis imutáveis da Natureza. Ele é bem conhecido pelas pessoas de todo o mundo, interessadas no estudo da civilização e cultura do Oriente, assegurando no respeito e na reverência nos seus conteúdos na chave mestra que abre as portas do reino da Paz, da Bem-aventurança, do Mistério e do Milagre. Até mesmo os filósofos do Ocidente encontram consolo e paz nesta Ciência Divina. Jesus Cristo, em si mesmo, foi um Yogi, de uma ordem superior, um verdadeiro Raja-Yogi. O considerado fundador do Yoga, Patañjali Maharishi, não foi unicamente um filósofo e um Yogi, mas um médico também. Ele viveu três mil anos antes de Jesus Cristo.
O Yoga é um estado de Paz Absoluta, de tal maneira que não há nenhuma fantasia nem pensamentos. O Yoga é o controle da mente e de suas modificações. O Yoga nos ensina como controlar as alterações da mente e obter a liberação. Ele nos ensina como transmutar a natureza pecadora e alcançar o estado de Divindade. Ele é a completa supressão da tendência da mente transformar em si mesma no interior dos objetos dos sentidos, pensamentos, etc. O Yoga extermina toda a espécie de dores, misérias e tribulações. Ele dá a você a liberação da roda de nascimentos e mortes (Samsara); e dos seus conseqüentes malefícios, doença e velhice, etc., e concede a você todos os poderes Divinos e a liberação final, por intermédio do conhecimento superintuicional.
Yoga é eqüanimidade. Yoga é serenidade. A destreza nas ações é Yoga. Qualquer coisa, de melhor e mais elevada pode ser realizada na vida é, também, Yoga. O Yoga é, desta forma, o que tudo abraça, o que tudo inclui, e a sua aplicação universal conduz ao desenvolvimento de todas as qualidades do corpo, da mente é da alma,
Primariamente, o Yoga é um estilo de vida, não é alguma coisa pela qual se separa da vida. Yoga não é o abandono da ação, mas a sua execução eficiente, de boa vontade. Yoga não o fugir de casa e da habitação humana, mas um processo de modelagem das atitudes de alguém na sua casa, na sociedade, com um novo entendimento. Yoga não é afastar-se da vida, é a espiritualização da vida.
o Tantra, tal como outros caminhos, é uma doutrina de libertação que carrega em si o objetivo explicito de levar o adepto à Iluminação. Em sua origem, o Tantra foi concebido como um ensinamento para a nova era, especialmente necessária na Kali Yuga, a Era das Trevas, marcada pela decadência moral e espiritual.
A tradição hindu fala de quatro eras ou yugas que compõem a existência do Universo. Elas diferem quanto ao grau de obediência dos homens ao Sanáthana Dharma (“Lei Eterna”), a lei que determina justiça, retidão, moralidade e inspira e fundamenta todas as religiões, pois é tida como a essência eterna e única de todas elas. Cada uma das eras possui uma determinada escritura (ou shastra) apropriada ao nível ético de sua Humanidade. Dessa forma, a primeira das eras, a Krita Yuga (“Era de Ouro”), foi a época em que viveram santas criaturas, o Sanáthana Dharma era cumprido em sua plenitude e os Vedas era a sua escritura adequada. No Treta Yuga, a retidão já perdera 1/4, e sua escritura foi Smriti, isto é, a sabedoria que fora guardada na memória. O Yuga seguinte chamou-se Dwápara. Nele, do dharma (retidão, dever, justiça) sobrara apenas a metade. A escritura que os seres humanos deveriam então estudar, compreender e aplicar é chamada Purána. E finalmente, o presente Yuga é chamado Kali (treva, escuridão), onde apenas 1/4 da ética ainda resta e o Tantra é eleito como o shastra adequado. O Mahanirvana Tantra (1:36-42) expõe detalhadamente a Kali Yuga:
Com o progresso pecaminoso da Kali [Yuga], que destrói toda a lei, que é repleta de leis e fenômenos do mal e que faz surgir atividades malignas,
Os Vedas se tornam ineficazes, para não falar que relembram o Smritis. E os muitos Puránas contendo varias histórias e exibindo os muitos meios [para a libertação]
Serão destruídos, ó Senhor. Então o povo se desviará da ação virtuosa
E se tornará habitualmente desenfreado, louco de orgulho, versado em más ações, lascivo, confuso, cruel, rude, vulgar, fraudulento,
Efêmero, maçante, perturbado por doença e pesar, feio, fraco, vil, ligado a comportamento torpe,
Chegado à más companhias, a ladrões do dinheiro alheio. Eles se tornam trapaceiros empenhados em culpar, caluniar e injuriar os outros
E não sentem relutância , pecado ou medo em seduzir a esposa do outro. Eles se tornam destituídos, asquerosos, mendigos destroçados que adoecem da sua vadiagem.
(Trad. FEUERSTEIN, 2001, p. 65)
Uma das influências do Tantra diz respeito à concepção do corpo humano que em muito difere do que até então era tradicional na Índia. Muitas das tradições ascéticas consideravam o corpo como um mero acúmulo de vísceras cuja natureza é corrompida e cujo destino final é morrer e apodrecer. Talvez o exemplo mais claro disso é o que aparece no Agni Purana (LI:15):
O asceta (yati) concebe seu corpo, na melhor das hipóteses, como uma bolha de pele, rodeado de músculos, de tendões e de carne, cheio de urina, fezes e impurezas malcheirosas, habitáculo da doença e do sofrimento, vítima certa da velhice, da tristeza e da morte, mais transitório que uma gota de orvalho numa folha de erva.
(trad. FEUERSTEIN, 2001, p. 461)
No Maitráyaníya Upanishad (1:3) também podemos encontrar uma definição semelhante:
Ó Ser Venerável, o que há de bom no usufruto dos desejos neste corpo malcheiroso e sem substância, num mero conglomerado de ossos, pele, tendões, músculos, medula, carne, sêmen, sangue, muco, lágrimas, fezes, urina, gazes, bile e catarro? O que há de bom no usufruto dos desejos neste corpo que é afligido pelo desejo, pela ira, pela cobiça, pela ilusão, pelo medo, pelo desânimo, pela inveja, pela separação em relação às coisas queridas e a proximidade das não-queridas, pela fome, pela sede, pela velhice, pela morte, pela doença, pela tristeza, pesar e tudo mais?
(trad. FEUERSTEIN, 2006, p. 462)
Entretanto, como observa Eliade (1979), historiador das religiões, “no tantrismo, o corpo humano adquire uma importância que nunca havia tido antes na história espiritual da Índia” (p. 156). Essa nova atitude se expressa sinteticamente no Kularnava Tantra (1.14), outro importante texto tântrico hindu: “dentre os 840.000 tipos de seres corpóreos, o conhecimento da Realidade não pode ser adquirido senão pelo [corpo] humano”. (trad. FEUERSTEIN, 2001, p. 462)
Com o surgimento do Tantra, surge, então, uma nova visão do corpo: a de que é um templo do divino, pois ele permite uma série de investigações, reflexões e experiências que o tornam um instrumento invalorável para a realização espiritual e a iluminação.
O Tantra é um importante marco na história do Yoga, pois trás a luz uma nova concepção do corpo, que antes disso, era considerado um obstáculo para a libertação, fonte da corrupção e inimigo do Espírito. Esta visão de corpo como um monte de coisas substanciais temporais, deu lugar a uma concepção física da morada de Deus, e o preparo do corpo (com o Hatha Yoga) tornou-se um processo alquímico para realizar a perfeição espiritual. O corpo passou a ser visto como um reflexo do macrocosmo, que contém em seu interior todos os segredos do universo. Como diz o Kulanarva Tantra (I:18): “como pode alguém vir a conhecer o propósito da vida sem possuir um corpo humano? Por esta razão, tendo obtido a dádiva de um corpo humano, poderia realizar feitos meritórios”. (trad. FEUERSTEIN, 2006, p. 462)
Rosas (2003) esclarece que ao falar de Tantrismo é importante saber que este concebe duas linhas de pensamento que possuem pontos de semelhança, mas que estão marcados por diferenças importantes. Uma das linhas é o Vama Tantra, que considera o homem sendo Shiva e a mulher como Shakti e prega que somente com a união deliberada de ambos é que se pode chegar à experiência de Iluminação. Já o Dakshina Tantra, a linha de mão direita, considera que tanto homens quanto mulheres são dotados de características femininas e masculinas em sua personalidade, e que a experiência de unidade em seu interior é responsável pela Iluminação.
Este é sempre um ponto de muita discussão e misticismo. Todos os desvios do Yoga e do Ayurveda são atribuídos hoje ao Tantra, por este ser um termo correlacionado com o sexo, a orgia e a promiscuidade. Nada mais errado.
Tantra, tal como o termo yoga, é uma palavra de muitos sentidos, muito embora nenhum deles alude ao que se considera como tantra aqui no ocidente.
No nível mais mundano, denota teia ou urdidura. Deriva do radical tan, no sentido de expandir. Esse radical também forma a palavra tantu (fio ou cordão). Enquanto um fio é alguma coisa extensiva, uma teia sugere expansão. Tantra pode também representar sistema, ritual, doutrina e compêndio. Segundo explicações esotéricas, tantra é o que expande o jñana, que pode significar conhecimento ou sabedoria. De forma geral, considera-se o Tantra como um estilo particular de ensinamentos espirituais que começou a ganhar popularidade no continente indiano cerca de 1.500 anos atrás.
Muito embora se considere o Tantra como um conjunto de técnicas inovadoras, este se considera, desde o inicio, como uma continuação dos antigos ensinamentos dos Vedas. De fato, para alguns, o Tantra é considerado o quinto Veda. Feuerstein (2001), citando o pândita Manoranjan Basu, afirma que os Tantras “são as mais antigas escrituras contemporânea aos Vedas, se não anteriores” (p.29). Feuerstein (2001) também comenta que a obra Narayaniya Tantra afirma que o Tantra deu origem aos Vedas, e não ao contrário (p. 30). Diante desses pontos, o autor diz que o que pode ser afirmado com segurança é que existe uma continuidade inegável entre os Vedas e as revelações tântricas.
A escritura tântrica (Tantra Shastra), de diálogos entre Shiva e sua esposa Parvati, ao longo dos quais importantes informações são divulgadas e verdades profundas são “des-veladas”. Shiva é tido como a Consciência Suprema e sua divina esposa, também denominada Shakti é a energia cósmica criadora. Nos casos onde Shiva é o Guru, o texto é conhecido como Ágama. No caso contrário, quando Shakti é a Guru, constitui o Nigama. Esses textos incluem ensinamentos com os tópicos seguintes: a criação do universo e sua destruição; a adoração; os exercícios espiritualizantes (Yoga); rituais e cerimônias; seis ações de purificação e meditação, todos com finalidade de promover a Libertação da alma individual.
Existem muitos textos tântricos e muitos deles podem ser encontrados já traduzidos pela internet, entretanto seu estudo não é recomendado sem um Guru, um mestre que já tenha estudado estes textos. Talvez a parte que mais nos interessa no Tantra seja a sua sistematização do pranamaya kosha, o corpo de prána ou energia sutil, indispensável para qualquer yogaterapeuta.
Mas este é um assunto para um outro post!
Namastê